Em delação premiada, o empresário Mário Seabra Suarez, da Mendes Pinto Engenharia, relatou a entrega de pelo menos R$ 2 milhões ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, na sede do partido em São Paulo. O valor seria destinado à campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. A informação é do jornal Folha de São Paulo.

A matéria da Folha diz que o pagamento fazia parte da propina acertada em troca do favorecimento da empresa para gerenciar a construção da Torre Pituba, nova sede da Petrobras em Salvador, cujo valor da obra saltou de R$ 320 para R$ 1,3 bilhão.

O total da propina de R$ 9,6 milhões, segundo Suarez, era dividido assim: 

1 – Um terço ia para o comitê nacional do PT, representado por Vaccari; 

2 – Um terço para os operadores da Petrobras e do Petros (fundo de pensão da estatal); 

3 – O restante ia para o PT baiano, por meio do operador financeiro Carlos Daltro, ligado ao senador Jaques Wagner (PT-BA), ex-governador do estado.

Jaques Wagner 

Na parte da delação publicada pela imprensa, o relato do delator cita Daltro como intermediário de Wagner, mas não detalha a participação do senador nesses repasses nem como o político se beneficiava dos pagamentos. Wagner e Daltro não são réus nesta investigação. 

Os depoimentos foram tomados em setembro de 2019. Como parte da propina adiantada pela empresa de gerenciamento da obra, teriam sido firmados contratos superfaturados com um escritório de arquitetura e com a Chibasa, responsável pelo projeto de engenharia da construção, e, depois, com a OAS e a Odebrecht.

Tripodi também citado

Outro delator, Alexandre Suarez, também sócio da Mendes Pinto, disse que, na divisão dos terços, pela Petrobras, quem recebia o dinheiro era Armando Tripodi, chefe de gabinete do então presidente da estatal, Sérgio Gabrielli. 

Mais de 40 réus

O processo sobre a Torre Pituba, nome dado à nova sede da Petrobras em Salvador, é um dos maiores da história da Lava Jato, com mais de 40 réus. A ação foi aberta no fim de 2018 e ainda não foi sentenciada. 

R$ 1 bi

O projeto e a construção da Torre Pituba passaram de R$ 320 milhões para R$ 1,3 bilhão com o superfaturamento, segundo o Ministério Público Federal.

Outro lado

Em nota, o PT afirma que o depoimento divulgado é uma denúncia “fantasiosa, sem sentido e sem provas” e que pretendem atingir o partido no momento em que as atenções se voltam para a indicação ao Oscar do documentário “Democracia em Vertigem”, que trata do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

“Não pode haver outra razão para vazarem justamente hoje [terça-feira] um depoimento de quatro meses atrás, no qual um acusado diz que ouviu falar que lhe contaram sobre episódios que teriam se passado há uma década.”

Wagner

A defesa do senador Jaques Wagner afirmou “que não teve acesso ao conteúdo de suposta delação premiada divulgada pela imprensa, de modo que não comentará o assunto antes de acessar sua íntegra”. E disse, em nota, que “lamenta que, mais uma vez, pretensos conteúdos de processos que tramitam em segredo de justiça sejam divulgados por veículos de comunicação antes que as partes citadas sejam notificadas. É reprovável que essas práticas continuem ocorrendo, mesmo após a divulgação de complôs formados para acusar pessoas sem provas, atentando contra o Estado democrático de Direito”.

A defesa de João Vaccari Neto afirma que o delator o acusa de forma “inverídica e destituída de qualquer prova”. Diz ainda que ele nunca foi tesoureiro de campanha política, mas sim do PT e que, pelo partido, sempre solicitou doações legais.