Sargento da FAB preso na Espanha com 39 kg de pó quer falar mas filho do presidente não quer ouvir

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Juíza de 1ª instância deu decisão contrária ao sargento da FAB ser ouvido agora na Câmara dos Deputados. A quem interessa o silêncio do militar?

A cada dia fica mais intrigante o caso do sargento da FAB flagrado e preso na Espanha com 39 kg de cocaína ao desembarcar numa escala técnica do avião de apoio da comitiva o presidente jair Bolsonaro, que chegaria no outro dia.

1 – Segundo informações do jornal Hora do Povo, o sargento Manoel Silva Rodrigues está lutando na Justiça pelo direito de apresentar informações sobre os fatos à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República que foi indicado para ser embaixador dos EUA;

2 –  Para o Hora do Povo, Eduardo Bolsonaro deveria ser o primeiro  a convocar a defesa do sargento para dar explicações de como ele, membro da comitiva presidencial, pôde transportar 39 quilos de cocaína em sua mala. Mas, estranhamente, o “zero três” está impedindo que isso aconteça. Eduardo não está permitindo que o sargento seja ouvido.

3 – É, no mínimo, estranho que Eduardo Bolsonaro não queira conhecer a versão do sargento. Por que ele está impedindo a vinda dos advogados do sargento da FAB à Câmara dos Deputados? Essa é uma pergunta que não quer calar.

AÇÃO JUDICIAL

Na ação judicial, Rodrigues afirma que Eduardo, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, convidou representantes do Gabinete de Segurança Institucional e da Força Aérea Brasileira para se manifestarem sobre o episódio de sua prisão.

O militar alega que ele também tem o direito de se manifestar sobre o caso. Mas, de acordo com o militar detido na Europa, o deputado ignorou todos os seus pedidos para se manifestar.

Ainda segundo o Hora do Povo, Eduardo Bolsonaro não chegou sequer a responder os e-mails do sargento, nem a juíza de 1ª instância que julgou o caso, Joana Cristina Brasil Barbosa Ferreira, da 1ª Vara Cível de Taguatinga (DF), teria atendido o seu pedido do preso para ser ouvido.

DECISÃO CONTRÁRIA

Em decisão publicada no último dia 9/9, a magistrada afirmou que o militar não tem urgência para se manifestar sobre o caso, muito menos na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que não tem a função de julgar criminalmente o episódio.

“Na hipótese dos autos, não há que se falar em urgência contemporânea à propositura da ação, pois qualquer esclarecimento que o requerente (sargento Manoel Silva Rodrigues) tenha a fazer às Comissões da Câmara dos Deputados não demanda urgência, eis que referidas comissões não constituem veículos de comunicação e tampouco são competentes para tramitação de processo criminal, no qual o requerente terá oportunidade de defesa assegurada”, diz a juíza. 

Estranha dificuldade

Não se sabe por qual motivo o Brasil não pode conhecer a versão do sargento preso a respeito dos 39 kg de cocaína transportados para a Espanha em um avião da comitiva de Jair Bolsonaro. 

Ao militar, resta, agora, ingressar com um recurso na 2ª instância da Justiça, insistir nos pedidos por e-mail a Eduardo Bolsonaro e aguardar que o inquérito que corre sob sigilo na FAB resulte na abertura de um processo judicial, quando só então poderá ser ouvido, segundo a juíza Joana Ferreira.