Cenário sombrio para o turismo: perdas de R$ 14 bilhões só em março

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Setor pode demitir 1 milhão de trabalhadores formais com a crise.  

Em carta aberta ao governo, divulgada há duas semanas, um conjunto de entidades empresariais ligadas ao turismo – Resorts Brasil, ABIH, FOHB, FBHA, BLTA, Sindepat, Adibra e Unedestinos – estimou que o setor poderia fechar o ano com 1 milhão de demissões, devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus no turismo. 

Estudo

Em comparação com o faturamento do mês de março de 2019, o setor de turismo perdeu R$ 14 bilhões em faturamento no mesmo mês este ano.

A pandemia do novo coronavírus está impactando o setor, segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado nesta quarta-feira, 8 de abril.

As perdas podem levar ao fechamento de 295 mil vagas formais de trabalho em até 3 meses.

“O Brasil não está diferente do restante do mundo. É um setor que parou”, afirmou Fábio Bentes, economista da Divisão Econômica da CNC, responsável pelo estudo, lembrando que as restrições de contato social para conter a pandemia atingem em cheio a “natureza” do turismo, que depende do deslocamento físico das pessoas. 

“O isolamento social e o fechamento de fronteiras minam a capacidade de geração de receita do setor”, completou o economista.

A projeção da CNC estima o faturamento em correlação com o movimento de voos nos aeroportos. Conforme dados de consultoria especializada no monitoramento de voos, o mundo todo registrou 80,9 mil voos, diante de uma média diária de 175 mil nos dois meses anteriores, refletindo os cancelamentos provocados pela Covid-19. Nos últimos dias de março, em torno de 90% dos voos agendados no Brasil (nos 16 maiores aeroportos, que concentram 80% do fluxo) tinham sido cancelados.

Já as estimativas para o impacto no mercado de trabalho partem de uma correlação entre a dinâmica da receita com admissões e demissões. Nas contas do economista Bentes, dados históricos sugerem que, a cada queda de 10% no faturamento do turismo, o total de empregados no setor se reduz em 2%, com uma defasagem em torno de 3 meses, ou seja, as demissões costumam ocorrer um trimestre após as perdas de receitas.

Com o desempenho de março, 295 mil trabalhadores poderiam perder seus empregos em até três meses, nos cálculos do estudo da CNC. É mais do que o dobro da estimativa baseada apenas no desempenho da primeira quinzena do mês passado, que ameaçava 115 mil postos de trabalho.

CVC

A operadora de pacotes turísticos CVC, que chegou a adiar a divulgação de seu balanço financeiro por causa da pandemia, anunciou há duas semanas que o salário da diretoria executiva e do conselho de administração seria reduzido pela metade a partir de 1º de abril e que reduziria em 50% a jornada de trabalho de seus funcionários, com exceção daqueles que estejam trabalhando em questões emergenciais.

Porto Seguro

No 2º maior destino turístico da Bahia, Porto Seguro, no extremo sul, os parceiros da CVC já demitiram juntos quase 1 mil funcionários formais. O empresários argumentam que a medida favorecem os trabalhadores que receberão todos os direitos trabalhistas, além do seguro-desemprego, injetando na economia local cerca de R$ 6 milhões, num período em que a maior atividade econômica do município está parada devido as medidas para combater o coronavírus.