Pescador foge de Boipeba-BA após ser ameaçado por se opor a obra do dono da Globo

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Raimundo Siri precisou abandonar a comunidade de Cova da Onça após ser intimidado por mensagens, áudios e vídeos.

As autoridades estaduais e federais estão cientes das ameaças sofridas pelo pescador Raimundo Esmeraldino – Siri – da comunidade de Cova da Onça, na ilha de Boipeba, no sul da Bahia. Ele deixou a ilha fugindo das ameaças. 

Siri é uma das principais lideranças populares em Boipeba e vinha se posicionando abertamente contrário ao complexo hoteleiro Ponta dos Castelhanos. A obra é da sociedade Mangaba Cultivo de Coco Ltda, formada por empresários poderosos. Entre eles, estão José Roberto Marinho, dono da Rede Globo, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, além de outros quatro sócios endinheirados: Clóvis Macedo, Marcelo Stallone, Antonio Carlos de Freitas Valle e Arthur Baer Bahia.

Siri tem sido ameaçado em mensagens de texto, áudios e vídeos que circulam em grupos de WhatsApp dos moradores da ilha.

EMBARGO

A construção luxuosa vai ser levantada em uma Área de Proteção Ambiental e deve ocupar 1.651 hectares de extensão – o que corresponde a quase 20% de todo território da ilha. Embora o governo da Bahia tenha concedido uma licença para início das obras, o terreno é uma área pública federal e os sócios da Mangaba não detêm a posse definitiva desta enorme propriedade. 

Para completar, a compra da área foi feita das mãos de um empresário, ex-prefeito de uma cidade vizinha, que responde a um processo na justiça baiana por tomada de terra. Para o Ministério Público Federal, a terra pode ter sido grilada na origem.  

Desde o dia 7 de abril, a obra está embargada pela Secretaria de Patrimônio da União, a SPU, que acatou pedido do MPF. O prazo inicial foi de 90 dias. Siri deixou Boipeba na madrugada do dia do embargo.

PROPAGANDA

Com forte propaganda na mídia baiana, o negócio tem sido vendido como um “vetor de desenvolvimento sustentável” e fala em “capacitação de mão de obra” e outras condicionantes para atender as comunidades locais, como campo de futebol, instalação de equipamento esportivo, plano gestão de resíduos sólidos, gestão urbana e melhorias no saneamento básico, além de uma estação de tratamento de resíduos.

Esse discurso tem reverberado com força entre os moradores. Sobre as ameaças a Raimundo Siri, a empresa Mangaba disse que desconhece os fatos relatados. A empresa afirma ainda que “repudia todo e qualquer tipo de violência, e sempre pautou sua atuação na legalidade e no diálogo com a comunidade”.

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Da Redação com informações de reportagem publicada no Intercept Brasil