Família de Flávio Dino está no poder desde Dom Pedro II

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01/12/23 – Indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula (PT), o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), é representante de uma família que ocupa postos de poder desde os tempos do Império (1822-1889). Respire fundo e leia mais sobre o clã de onde saiu o esquerdista Flávio Dino. 

Esmagando a Cabanagem

A ascensão do clã começou com seu tetravô, Francisco Manuel Antônio Monteiro Tapajós, o “Herói de Tapajós”, que ajudou o então imperador Dom Pedro II a esmagar militarmente a revolta da Cabanagem, um levante popular de negros, indígenas e mestiços na Amazônia. 

Política e Judiciário

O pai de Dino foi deputado estadual e o avô, desembargador – numa época em que os cargos no Judiciário se davam por indicação. As informações sobre a genealogia de Flávio Dino foram levantadas por uma dissertação de mestrado em Ciências Sociais apresentada à Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em 2007. O trabalho chama-se “A Tradição Engajada: origens, redes e recursos eleitorais no percurso de um agente”, do advogado José Barros Filho.

Bom currículo

Flávio Dino formou-se em Direito na mesma universidade em 1986 e foi coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Fez mestrado em Direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e passou em 1º lugar no concurso para juiz federal em 1994, aos 26 anos.

DNA do poder
“Nicolau Dino (o avô de Flávio Dino) descende de uma tradicional família ‘amazonense’, a família Tapajós”, diz um trecho da dissertação. A linhagem começa com Francisco Tapajós (1815-1877), tetravô de Flávio Dino. “Francisco tornou-se um próspero proprietário de terras às margens do Rio Tapajós, na então província do Grão-Pará. Colaborou com o governo provincial no combate à ‘Revolta dos Cabanos’ (a Cabanagem) e, em sinal de gratidão pelos serviços prestados, foi proclamado pelo Imperador D. Pedro II ‘Herói de Tapajós’”.

Além de coronel-Comandante da Guarda Nacional, Francisco Tapajós enveredou pela política. Foi deputado provincial em 1874, ocupando a presidência da Assembleia Provincial do Grão-Pará”, diz a dissertação. 

Explorando indígenas

Tapajós foi também empresário, tendo sido dono de uma grande olaria – que usava inclusive trabalho forçado de indígenas, segundo o artigo “Mundos cruzados: etnia, trabalho e cidadania na Amazônia Imperial”, apresentado em 2009 por Patrícia Melo Sampaio.

Classe dominante tradicional

“A família dele (Dino) é uma família importante do Maranhão, uma genealogia muito bem estruturada no Maranhão e no Amazonas, há várias gerações, desde o período imperial. É exatamente o mesmo padrão (…) da composição do poder no Brasil. Dino segue este mesmo modelo sociológico, da classe dominante. Famílias políticas com parlamentares e redes de parentesco (…) no sistema judicial, nas Forças Armadas, na intelectualidade”, afirma o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, que é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e estudioso das famílias políticas. “Dino segue aquilo que a gente chama de CDT: a Classe Dominante Tradicional.”

 

Trechos de matéria publicada no jornal Estadão, por André Shalders